Amor de Perdição - Resumo e Análise

Camilo Castelo Branco: (Resumo e Análise: Amor de Perdição)
{ 27 27UTC janeiro 27UTC 2008 @ 10:27 }

Esse estudo foi apresentado na edição do livro vendida pelo jornal O Estado de São Paulo a seus assinantes.

Marco do Ultra-Romantismo português, Amor de Perdição, publicado em 1862, foi muito bem-recebido pelo público em seu lançamento.

A obra é considerada uma espécie de Romeu e Julieta lusitano. Camilo Castelo Branco pertence à Segunda fase do Romantismo português, chamada Ultra-Romantismo – corrente literária da segunda metade do século XIX que leva ao exagero os ideais românticos. Escreveu vários gêneros de novelas: satíricas, históricas e de suspense. Mas foram suas novelas passionais – como Amor de Perdição – que lhe deram maior projeção dentro da literatura portuguesa. Nesta novela passional, de temática romântica exemplar, o escritor levou às últimas conseqüências a idéias de que o sentimento deve sobrepor-se à vida e à razão.

O livro trata do amor impossível e discute a oposição entre a emoção e os limites impostos pela sociedade à realização da paixão. Sem conseguir o objeto da paixão, o herói romântico confirma seu destino trágico. Nele, o mesmo amor que redime resulta em morte, conforme antecipa o narrador-autor na introdução do livro, ao comentar o destino do seu herói: “Amou, perdeu-se e morreu amando”.

1. UMA NOVELA ULTRA-ROMÂNTICA.

Amor de Perdição é uma obra-prima do Ultra-Romantismo português. Tem um narrador em primeira pessoa, que não participa dos acontecimentos, mas conhece os fatos passados por “ouvir falar” e “por pesquisar em documentos”. Conta a história do amor impossível dos jovens Simão e Teresa, separados por rivalidades entre suas famílias – os Albuquerques e os Botelhos, moradores da cidade de Viseu, em Portugal, e inimigos por questões financeiras.

1a. A APOTEOSE DO SENTIMENTO.

O corregedor Domingos Botelho e sua mulher Rita Preciosa têm cinco filhos, entre eles Simão, que desde pequeno demonstra um temperamento explosivo e indolente, e Manuel, calmo e ponderado. O primeiro vai estudar em Coimbra depois de uma confusão doméstica, em que toma a defesa de um criado da família. Lá, adota os ideais igualitários da Revolução Francesa e acaba preso durante seis meses por badernas e arruaças. Quando sai da cadeia, volta a Viseu, onde conhece e se apaixona por Teresa, sua vizinha que tem 15 anos e é filha de uma família inimiga da sua. Com o objetivo de separar Simão e Teresa, o pai da moça ameaça mandá-la para o convento, enquanto Domingos Botelho envia Simão de volta a Coimbra. Uma velha mendiga faz o papel de pombo-correio do casal, levando as cartas trocadas entre os dois jovens apaixonados.

1b. A MUDANÇA DE SIMÃO.

Movido pelo amor a Teresa, Simão decide se regenerar e estudar muito. Nesse meio tempo, o irmão Manuel, que chegara a Coimbra, foge para a Espanha com uma açoriana casada. A irmã caçula de Simão – Ritinha – faz amizade com Teresa. O pai da heroína quer casá-la com o primo Baltasar Coutinho – ordem que a moça se nega a cumprir. As intenções do pai de sua amada fazem Simão retornar clandestinamente para Viseu, hospedando-se na casa do ferreiro João da Cruz, antigo conhecido da família Botelho. Simão combina encontrar-se às escondidas com Teresa no dia do aniversário da moça, mas o encontro é transferido porque Teresa é seguida.

1c. AMOR E MORTE.

Na data combinada, Simão vai ao encontro marcado levando consigo o ferreiro João da Cruz e outros amigos. Depara-se com Baltasar que, na companhia de alguns criados, fora até o local para matar Simão. Na briga, dois dos criados de Baltasar são mortos. Ferido, Simão convalesce na casa de João da Cruz. Teresa vai para um convento. Mariana, filha do ferreiro apaixonada por Simão, empresta a ele suas economias para que vá atrás de Teresa, dizendo que o dinheiro pertence à mãe do próprio Simão.

No dia previsto para que Teresa mude de convento, Simão decide raptá-la. Dá-se um novo confronto com Baltasar Coutinho, que leva um tiro na testa e morre.

Simão entrega-se à polícia e dispensa a ajuda da família para sair da cadeia.

Levado a julgamento, é condenado à forca. Enquanto isso, Mariana enlouquece de amor e a saúde de Teresa definha no convento. Na cadeia, Simão passa os dias lendo e escrevendo cartas. João da Cruz é assassinado pelo filho do criado de Baltasar Coutinho. Mariana, que estava na cidade do Porto, volta a Viseu para tomar posse da herança, confiada a Simão. Tardiamente, o pai de Simão pede que sua pena seja comutada em dez anos de prisão, mas o filho rejeita a ajuda paterna. Prefere o desterro para as Índias. Na data em que a nau dos condenados parte, Teresa morre no convento. Ao saber da morte de sua amada, Simão adoece, vindo a falecer no décimo dia de viagem. Quando seu corpo é jogado ao mar, Mariana que o havia acompanhado, lança-se da proa, suicidando-se abraçada à mortalha do amado.

O narrador-autor de Amor de Perdição conta fatos reais, romanceados a partir dos relatos de uma tia que o criou. Preocupa-se em transcrever documentos para dar autenticidade às aventuras que vai narrar. Essa preocupação do autor é um recurso romântico para mobilizar e envolver o leitor com a intenção de comovê-lo.

1d. CENÁRIO EM MOVIMENTO.

A novela passa em Portugal, no século XIX, fase final do absolutismo, quando a Corte portuguesa experimentava as conseqüências das invasões francesas determinadas por Napoleão. Em Amor de Perdição, o deslocamento das personagens para as cidades de Viseu, Coimbra e do Porto apenas reflete a complexidade das situações que as envolvem, não determinando os acontecimentos. Ainda assim, as referências às cidades permitem uma visão mais ampla da moral vigente e do provincianismo da sociedade portuguesa da época, na qual a tradição de familiar e a preocupação com a reputação prevalecem sobre o individualismo.

2. UM NARRADOR E VÁRIAS VOZES.

Camilo Castelo Branco narra sua história de maneira densa e ágil, intercalando, com maestria, a narração e os diálogos. Sem deixar de afirmar o caráter verídico dos fatos que descreve, o narrador-autor assume que se vale mais da memória do que da realidade dos fatos. Utiliza-se também, ao mesmo tempo, de inúmeros documentos para afastar dúvidas quanto à credibilidade do que descreve, posicionando-se como contador de fatos já ocorridos. “Já lá se vão cinqüenta e sete anos (…)”, diz a carta de tia Rita.

Ao relatar a forma como conseguiu os documentos para reconstituir “a triste história de meu tio paterno Simão Botelho”, o narrador está com o foco centrado na primeira pessoa. Assim que começa a descrever os fatos ocorridos a cada um dos personagens, torna-se um narrador em terceira pessoa.

2a. AMOR POR CORRESPONDÊNCIA.

As cartas trocadas entre os dois jovens protagonistas apaixonados, incluídas no livro, são um importante recurso retórico usado pelo escritor e que intensifica o teor passional e dramático da história.

Trazendo emoções e confissões de Simão e Teresa, os textos das cartas os transformam também em narradores. Amor de Perdição é, portanto, uma obra que possui múltiplas vozes narrativas.

Também se destaca na obra o personalismo do narrador-autor, que volta e meia interfere para julgar ou ponderar – mostrando comoção ou indignação, porém sem se alongar demais nas suas digressões a ponto de prejudicar a ação.

3. AÇÃO EM ORDEM CRONOLÓGICA.

Em Amor de Perdição, os acontecimentos se desenrolam de uma maneira bastante linear e em ordem cronológica, privilegiando a ação em vez da descrição. Exemplar no gênero novela passional, a obra tem uma única trama central – a infeliz história de amor entre Teresa e Simão, repleta de desavenças, infortúnios, crimes, mortes, fugas e tentativas de rapto -, em torno da qual se movimentam as demais personagens.

3a. UMA LINGUAGEM POPULAR.

O próprio Castelo Branco justifica o sucesso de seu romance: “Rapidez das peripécias, a derivação concisa do diálogo para pontos essenciais do enredo, a ausência de divagações filosóficas, a lhaneza de linguagem e o desartifício das locuções”. Essa explicação está incluída no prefácio da segunda edição da novela, desdenhada pelo autor, no início, por tê-la produzido em apenas 15 dias, no período em que ficou preso.

Embora tenha escrito febrilmente para sustentar a família e produzido, certa vez, quatro livros ao mesmo tempo, Camilo Castelo Branco manteve sempre o cuidado estilístico e a preocupação com a pureza da linguagem. Se, às personagens mais populares, emprestava uma fala viva e espontânea, aos protagonistas burgueses reservava uma retórica mais sentimental e trágica.

4. PERSONAGENS SEM CONTRADIÇÕES.

O mundo romântico é idealizado, povoado de personagens virtuosas e sem contradições. Nesse contexto, podem-se contrapor às regras sociais, mas são sempre guiadas por seus sentimentos. Amor de Perdição tem três personagens principais: Simão, Teresa e Mariana. Embora pertençam a classes sociais diferentes – Simão e Teresa são burgueses, enquanto Mariana é filha do camponês João da Cruz -, a distinção se perde porque o que vale, na novela e no romance romântico, é a nobreza das emoções, permitindo que sua firmeza de caráter sobressaia.

4a. SIMÃO ANTÔNIO BOTELHO: O HERÓI ROMÂNTICO.

Se muito do que é relatado em Amor de Perdição tem seu fundo de verdade – todos os Botelhos citados na narrativa são realmente parentes do autor por parte de pai -, o herói romântico é, confessadamente, enriquecido pela imaginação do autor. O Simão real, segundo um biógrafo, era pouco e um bagunceiro em Coimbra, até ser degredado para a Índia em 1807, sem que se tivessem mais notícias dele depois. Já o Simão de Camilo Castelo Branco ainda jovem tem ideais revolucionários, mostrados claramente quando ele se rebela contra a mentalidade escravocrata de sua família, cena descrita no primeiro capítulo.

Essencialmente romântico, e muito inspirado na vida do próprio autor, o herói tenta seguir a ordem estabelecida para ter o amor de Teresa, desejo que se mostra impossível. Sem obter resultado, Simão parte para uma espécie de extremismos emocionais, como a tentativa de rapto que culmina em mortes. Defensor das idéias liberais, tem nobreza de caráter. Tanto que se entrega à polícia depois de dar vazão ao seu lado colérico, quando mata Baltasar Coutinho.

4b. TERESA DE ALBUQUERQUE: A HEROÍNA ROMÂNTICA.

A frágil Teresa opõe-se firmemente ao destino que a família quer lhe impor Mas se vê obrigada a cumprir as ordens do pai, o dominador Tadeu de Albuquerque. Obstinada e apaixonada, luta para não se casar com o primo Baltasar Coutinho e troca cartas com Simão, na tentativa de acalmar a chama da paixão. Marginalizada e enclausurada num convento, reflete a fé na justiça divina e as injustiças cometidas em função dos preconceitos da época, que se interpunham entre ela e a felicidade não realizada.

4c. MARIANA: A AMANTE SILENCIOSA.

Mulher mais velha, de 24 anos, criada no campo, Mariana pertence a uma classe social mais popular. Dela o narrador diz ter “formas bonitas” e um rosto “belo e triste”, para realçar a grandeza de seu amor-renúncia. O desprendimento que mostra – mando Simão em silêncio e, por isso, ajudando-o a se aproximar da felicidade pela figura representada pela figura de Teresa – faz parte do ideário romântico. Abnegada e fiel, Mariana jamais diz uma palavra e controla obstinadamente seu ciúme. Na história de Camilo Castelo Branco, é a personagem que mais sofre no romance. Pode-se dizer que a obra existe uma tríade romântica – Simão, Mariana e Teresa. Os três nunca se realizam sentimentalmente e têm um final trágico.

4d. JOÃO DA CRUZ: O CAMPONÊS RÚSTICO.

Personagem popular, é um camponês que se transforma no protetor do jovem Simão quando este volta à cidade de Viseu, atrás de Teresa. A princípio, cuida do jovem em retribuição ao pai de Simão, que outrora o livrara de uma complicação judicial. Mas depois acaba gostando tanto de Simão a ponto de matar para defender o rapaz.

4e. BALTASAR COUTINHO: O BURGUÊS INTERESSEIRO.

É o primo de Teresa, rapaz sem moral e sem brios, que não ama a moça, mas está disposto a recorrer a quaisquer expedientes para vencer a disputa com Simão. Faz o contraponto com o herói, na medida em que ambos vêm de famílias abastadas. Mas enquanto Simão se move pelos mais nobres sentimento, Baltasar é norteado por intenções medíocres.

4f. TADEU DE ALBUQUERQUE: O AUTORITÁRIO.

É o pai de Teresa, que a todo momento toma o destino da moça nas mãos, sem respeitar seus sentimentos. Por uma rivalidade particular com a família de Simão, decide impedir a felicidade da filha, criando vários empecilhos para afastá-la de seu amor.

4g. MANUEL BOTELHO, O IRMÃO DESMIOLADO.

O jovem irmão de Simão – que inicialmente critica o protagonista por sua vida desordenada – envolve-se com uma mulher casada na época em que vai morar com Simão na cidade de Coimbra. Arrependido, confirma sua dependência familiar quando pede ajuda aos pais para devolver aos Açores a mulher casada com quem havia fugido.

As personagens do Romantismo vivem em conflito com a sociedade, que impõe limites à realização de seus desejos. No caso de Amor de Perdição, o obstáculo a ser superado é a família, tanto da de Teresa quanto a de Simão. As personagens do Realismo vivem em contradição consigo mesmas e coma sua visão do mundo.

5. AS NOVELAS CAMILIANAS.

Embora Camilo Castelo Branco classificasse suas obras como romances, os críticos literários referem-se a elas como novelas. A diferença essencial está no tratamento linear da narrativa, nas cenas sucessivas e na conclusão fechada. Os romances abordam um mundo multifacetado, com personagens mais complexas e contraditórias.

Nas novelas passionais do autor, o tema central é amor, exacerbação do sentimento que leva à ruptura com os padrões de comportamento e as regras sociais: a transgressão norteada pelos mais nobre dos sentimentos: a paixão que justifica toda a sorte de condutas, como o enlouquecimento – no caso de Mariana, a apaixonada que ama Simão em silêncio; a clausura – de Teresa, enviada para um convento pelo pai para afastá-la de seu amor; e a transformação de um homem de bem em criminoso – como o assassinato cometido por Simão. São histórias curtas que relatam, quase sempre, a luta entre o bem e o mal.

Em suas novelas passionais, Camilo Castelo Branco explora a contradição entre o eu – que quer guiar-se pelos sentimentos – e os limites sociais que tentam impedir a concretização desses sentimentos. Tudo isso passa num mundo cheio de personagens que são moldadas de forma maniqueísta, voltadas para o bem ou para o mal, sem se desviar de seus propósitos.

6. UM APAIXONADO DO CETICISMO.

Inscrito na segunda fase do Romantismo português – a corrente literária classificada de Ultra-Romantismo -, Camilo Castelo Branco opta pela abordagem dos sentimentos em vez de voltar-se para a questão do nacionalismo, uma característica que marcou vários autores na primeira fase do Romantismo em vários países europeus, inclusive Portugal. A grande interrogação de Camilo Castelo Branco é; até que ponto o homem pode se valer dos sentimentos para guiar sua existência?

O Romantismo surgiu na primeira metade do século XIX, condicionado pelo fenômeno de ascensão da burguesia, provocado pela Revolução Francesa e consolidado com as Revoluções Liberais de 1830 e 1848. É uma reação ao universalismo neoclássico, propondo uma literatura subjetiva e individualista.

O exagero desse individualismo, o tédio e o ceticismo diante da existência criam a sensação indefinida de insatisfação, a que os românticos davam o nome de “Mal do Século”. A dificuldade em distinguir o sonho da realidade; o nacionalismo e a valorização do passado; o desejo de reforma e o engajamento político caracterizam a literatura romântica. O romance romântico aborda a temática do amor nas suas formas mais exaltadas, acima do controle da razão e inevitavelmente ligada à morte, como se vê nesta obra de Camilo Castelo Branco.

7. OPOSIÇÃO AO REALISMO.

Amor de Perdição, publicado em 1862, é anterior ao início do Realismo em Portugal, que só começa em 1865, com as polêmicas Conferências do Cassino Lisbonense e as discussões que redundaram na chamada Questão Coimbrã. Camilo opunha-se ao romance realista, julgando-o imoral. Criticava-o por retratar pessoas fúteis ou que premeditam crimes, que desorganizam famílias: padres que rompem o celibato e alterações sexuais. O escritor rejeitava esses temas em favor da apologia do sentimento. Sobre o Realismo, afirmou: “(…) Quero escrever romances para as pessoas lerem na sala, não nos quartos de banho. Quero escrever romances para que todas as pessoas da família possam ler: as moças mais jovens, as senhoras (…)”.

8. O ROMANTISMO EM PORTUGAL.

O Romantismo chega a Portugal no momento em que o país vivia uma das suas mais graves crises sociais e políticas. Dividido entre o absolutismo de Dom Miguel e o liberalismo de Dom Pedro IV – Dom Pedro I no Brasil -, a nação portuguesa se viu envolvida numa violenta guerra civil entre os anos de 1832 e 1834. Os liberais – defensores de uma monarquia constitucional – representavam os interesses da burguesa capitalista emergente contra as detentoras dos bens feudais, representado por Dom Miguel. A revolução romântica alimenta-se, em Portugal, dessa revolução social e política. Os primeiros escritores românticos portugueses – Almeida Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877) – participam ativamente da revolução liberal e, após sua vitória, em 1834, retornam do exílio para implantar em Portugal a nova literatura romântica.

8a. AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS.

Costuma-se dividir o Romantismo português em três gerações. A primeira – entre 1825 e 1840 – caracteriza-se pela luta pelo liberalismo e pela libertação das amarras neoclássicas. Tem em Almeida Garrett e Alexandre Herculano seus principais representantes. Na Segunda geração – entre 1840 e 1860 -, prevalece o passionalismo e sobressai a figura ultra-romântica de Camilo Castelo Branco. Na terceira – de 1860 -, representada por Júlio Dinis (1869-1871), é marcada a fase de transição para o Realismo da década de 70.

VIDA E OBRA: O MAIS ROMÂNTICO DOS ROMÂNTICOS

A vida de Camilo Castelo Branco (1825-1890) parece Ter sido copiada de uma de suas novelas passionais. Aos dois anos fica órfão de mãe. Aos dez perde o pai. Criado por uma tia e pela irmã, recebe educação religiosa. Aos 16 anos, casa-se com Joaquina Pereira, de apenas 15. Desse primeiro casamento – logo esquecido – tem uma filha, que morre aos cinco anos. Entre os anos de 1843 e 1846, tenta, sem sucesso, formar-se em Medicina na cidade do Porto e de Coimbra.

Entretanto, parece mais inclinado à boêmia e ao escândalo. Em 1846, é preso por raptar a jovem Patrícia Emília, com quem tem outra filha. Em 1847, fica viúvo de Joaquina Pereira. Trava um duelo com um dos filhos de Maria Felicidade Brown, e passa a ter um caso com ela.

1. UMA SUCESSÃO DE TRAGÉDIAS.

Em 1850, conhece Ana Plácido, por quem se apaixona. Quando ela se casa com o brasileiro Pinheiro Alves, o autor entra para o Seminário do Porto, buscando refúgio na religião. Mantém, então, um escandaloso caso amoroso com a freira Isabel Cândida. Em 1859, Ana Plácido abandona o marido e vai viver com o escritor. Perseguidos pela justiça, os dois passam um ano da Cadeia da Relação, na cidade do Porto. Data desse período de encarceramento a redação de sua maior novela passional – Amor de Perdição -, inspirada na suas próprias desventuras e na peça Romeu e Julieta, do escritor inglês William Shakespeare. Com a publicação da novela, em 1862, o escritor alcança grande popularidade.

O casal muda-se para São Miguel de Seide. Camilo Castelo Branco, então, passa a escrever para sobreviver. O irônico Coração, Cabeça e Estômago (1862) e Amor de Salvação (1864) estão entre as melhores obras escritas nesse período. Vários episódios trágicos continuam a perseguir o escritor. Um deles é a loucura de seu filho Jorge. O outro, a cegueira que começa a se manifestar no autor em 1867, conseqüência de uma sífilis contraída na juventude e mal curada. Em 1890, Camilo Castelo Branco coloca um ponto-final em sua maior novela passional. Mata-se com um tiro de pistola.

Principais obras
Carlota Ângela (1858), Amor de Perdição (1862), Coração, Cabeça e Estômago (1862), Amor de Salvação (1864), A Queda dum Anjo (1866), A Doida do Candal (1867), Novelas do Minho (1875-77), Eusébio Macário (1879), A Corja (1880), A Brasileira de Prazins (1882)

Camilo Castelo Branco conquistou fama com a novela passional Amor de Perdição. Bem ao gosto romântico, a característica principal da novela passional é o seu tom trágico. As personagens estão sempre em luta contra terríveis obstáculos para alcançar a felicidade no amor. Normalmente, essa busca é frustrante. Mesmo quando os amantes ficam juntos, isso é conse-guido a custa de muito sofrimento. Os direitos do coração, freqüentemente, vão de encontro aos valores sociais e morais. Segundo o autor, Amor de Perdição foi escrito em 15 dias em 1861, quando ele estava preso na cadeia da Relação, na cidade do Porto, por ter-se envolvido em questões de adultério.

FICHA
Estilo: pertence à época romântica
Gênero: novela passional
Foco Narrativo: Embora na “Introdução” narrador e autor se confundam, os fatos são narrados em 3ª pessoa.
Tempo e Espaço: Portugal (Viseu, Coimbra e Porto), século 19.
Personagens: Simão Botelho, Teresa Albuquerque, Mariana, Baltasar, Domingos Botelho, Tadeu Albu-querque, João da Cruz, D. Rita Castelo Branco

Fonte:
Digerati CEC 0004. CD Rom

Fonte: http://singrandohorizontes.wordpress.com/2008/01/27/camilo-castelo-branco-resumo-e-analise-amor-de-perdicao/

Amor de Perdição - Apresentação

Amor de Perdição_apresentaçao

Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco

Análise da obra

É comum, na obra de Camilo Castelo Branco, o tratamento do amor desenfreado e profundo entre jovens que lutam por suas paixões muito além dos limites de suas próprias forças. Resistentes a toda sorte de obstáculos, procuram a felicidade mas geralmente são desviados para a desgraça e, não raro, para a morte.

Em Amor de Perdição encontramos o traço principal da novelística passional de Camilo: a concepção do amor como uma espécie de destino, de fatalidade, que domina e orienta e define a vida (e a morte) das personagens principais. Marcado pela transcendência, esse amor trará consigo sempre um equivalente de sofrimento e de infelicidade: ou porque a paixão se choca frontalmente com as necessidades do mundo social, ou porque significa, em última análise um desejo luciferino de recuperar o paraíso na terra. Para as suas personagens, basta essa percepção do caráter transcendente da paixão amorosa para que ela acarrete logo um cortejo de sofrimentos: o remorso, a vertigem do abismo, a percepção de que o amor mais sublime é aquele que se apresenta e se revela, em última análise, como impossibilidade. Por isso, nas suas novelas sentimentais desfilam tantos “mártires do amor”, tantos sofredores que, no sofrimento, encontram a razão de ser e o sentido mais profundo da sua vida. É um marco do Ultra-Romantismo português. Muito bem recebido pelo público em seu lançamento, acabou se tornando uma espécie de Romeu e Julieta lusitano. Tem o traço shakespeareano onde as nobres famílias Botelho e Albuquerque vêem o ódio mútuo ameaçado pelo amor entre Simão Botelho e Teresa Albuquerque. Simão - o herói romântico, cujos erros passados são redimidos pelo amor -, Teresa - a heroína firme e resoluta em seu sentimento de devoção ao amado - e Mariana -, a mais romântica das personagens, tendo em vista a abnegação, representam a dimensão amorosa, o sentimento da paixão, ao qual se opõe o mundo exterior, a sociedade com sua hipocrisia.

A apresentação de Simão Botelho pelo narrador é essencialmente romântica: é feita de um modo a parecer real, verdadeira, e não ficcional. Os escritores românticos utilizavam-se de recursos como este presente em Amor de Perdição para que suas obras tivessem maior credibilidade, conquistassem a confiança do leitor.

Amor de Perdição foi um romance escrito na Cadeia da Relação do Porto, em 1861. Sub-intitulado de Memórias de Uma Família, é baseado em episódios da vida do tio Simão Botelho. Este é o romance mais popular, já traduzido em diversas línguas e adaptado ao teatro e ao cinema. Dele chegou a ser extraída uma ópera e, em 1986, fez-se uma edição da obra destinada aos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. É considerado uma obra-prima da ficção de língua portuguesa.

A obra não pode ser lembrada apenas como o mais bem acabado exemplo de novela passional, em que predomina o descabelamento amoroso e as paixões desenfreadas. Deve-se também destacar o mérito de possuir uma narrativa enxuta, concisa e extremamente criativa na invenção de obstáculos e peripécias, tornando o texto dinâmico, ágil. Na introdução do romance, o narrador-autor reproduz o registro de prisão de Simão Botelho nas cadeias da Relação do Porto e antecipa o degredo do moço, aos 18 anos, em circunstância ligada a uma paixão juvenil, bem como o desenlace trágico da história. Falando diretamente ao leitor, imagina a reação que tal história pode provocar: compaixão, choro, raiva, revolta frente à falsa virtude alegada pelos homens em atos injustos e bárbaros.

Foco narrativo

Do ponto de vista do foco narrativo, ou da postura do narrador perante a história, os elementos realistas de Amor de Perdição estão na critica às instituições religiosas, os conventos, e no comportamento não-passional de alguns personagens secundários, como João da Cruz, É possível perceber estes elementos nas passagens da obra em que o narrador denuncia a corrupção do convento de Viveu e enfatiza a lealdade, o senso prático, a sensatez de João da Cruz, relativizando assim a passionalidade predominante no romance.

Escrita em terceira pessoa, esta obra caracteriza-se por um narrador onisciente, isto é, um narrador que desvenda o universo interior dos personagens, sabendo mais do que eles próprios, o que lhes passa pela mente e pelo coração. O tipo de onisciência deste narrador pode ser classificado como onisciência intrusa, na medida em que ele não só revela mas também comenta os sentimentos e comportamentos dos personagens, deixando claro o seu ponto de vista a favor dos que amam e contra os que impedem a realização do amor

O episódio mais representativo do romance, no sentido de provocar lágrimas nos leitores românticos e risos nos leitores realistas, ocorre no seu desfecho, quando o tema da ‘morte por amor” atinge o clímax: Teresa morre no convento, ao sentir irreversível a perda de Simão, o qual, por sua vez, é tomado de uma febre fatal, no navio que o levaria pura longe da amada, quando fica sabendo de sua morte. Já Mariana, apaixonada por Simão, atira-se ao mar agarrada ao seu corpo.

Personagens

Simão Botelho - Inicialmente é apresentado como um jovem de temperamento sanguinário e violento. Perturbador da ordem para defender a plebe com quem convive e agitador na faculdade, onde luta de forma brutal pelas idéias jacobinistas, o seu caráter se transforma, e repentinamente, a partir do capítulo 2. É que conhecera e amara, durante os três meses em que esteve em Viseu, a vizinha Teresa. Ele com 17 anos, ela com 15, passam a viver desde então o amor romântico: um amor que redime os erros, que modifica as personalidades, que tem na pureza de intenções e na honestidade de princípios as suas principais virtudes. Aliás, são as virtudes que caracterizam os sentimentos de Simão, desde que experimenta este amor. Torna-se recatado, estudioso e até religioso, o que não o impede de sentir uma sede incontrolável de vingança, que resulta no assassinato do rival Baltasar Coutinho. Esse ato exemplifica a proximidade entre “o sentimento moral do crime” ou “o sentimento religioso do pecado” e a tentativa de consumação do amor. O modo como assume este crime, recusando-se a aceitar todas as tentativas de escamoteá-lo, feitas pelos amigos de seu pai, acaba de configurar o caráter passional do comportamento de Simão. Nem a possibilidade da forca e do degredo, nem as misérias sofridas no cárcere conseguem abater a firmeza, a dignidade, a obstinação que transformam Simão Botelho em símbolo heróico da resistência do individuo perante as vilezas da sociedade. Trata-se de um típico herói ultra-romântico, em outras palavras.

Teresa de Albuquerque - Protagonista, menina de 15 anos que se apaixona por Simão, também sai adquirindo densidade heróica ao longo da obra: firme e resoluta em seu amor, ela mantém-se inflexível perante os pedidos, as ameaças -e finalmente as atrocidades e violências cometidas pelo pai severa e autoritário, seja pata casá-la com o primo, seja para transformá-la em freira. Neste sentido, a obstinação que a caracteriza é a mesma presente em Simão, com a diferença de que nela o heroismo consiste não em agir, mas em reagir. Isto por pertencer ao sexo feminino, símbolo da fragilidade e da passividade perante o caráter viril, másculo, quase selvagem do homem romântico. Na medida em que não faz o jogo do pai, dando a vida pelo sentimento que a possui, Teresa constitui uma heroína romântica típica, um exemplo da imagem da mulher­anjo que vigorou no Bomantismo.

Mariana - Moça pobre e do campo, de olhos tristes e belos, tem sido considerada, algumas vezes, como a personagem mais romântica da história, porque o sentir a satisfaz, sem necessidade ao menos de esperança de concretizar-se a seu amar par Simão. Independente do amor entre Simão e Teresa, Mariana o ama e todo faz por ele: cuida de suas feridas, arruma-lhe dinheiro, é cúmplice da paixão proibida, abandona o pai para fazer-lhe companhia e prestar-lhe serviços na prisão e, finalmente, suicida-se após a morte de Simão. Estas atitudes - abnegadas, resignadas e totalmente desvinculadas de reciprocidade, fazem de Mariana uma personificação do espírito de sacrifício, o que torta a sua dimensão humana abstrata, pouco palpável.

Domingos Botelho - O pai de Simão e Tadeu de Albuquerque, o pai de Teresa, são tão passionais, tão radicais em seu comportamento, quanto Simão e Teresa. Entretanto, ambos podem ser considerados simetricamente o oposto dos heróis, na medida em que representam a hipocrisia social, o apego egoísta e tirano à honra do sobrenome, aos brasões cuja fidalguia eé ironicamente ridicularizada, desmoralizada pelo narrador.

Baltasar Coutinho - O primo de Teresa assassinado por Simão, acrescenta à vilania do tio, de quem se faz cúmplice, a dissimulação, o moralismo hipócrita e oportunista de um libertino de 30 anos, que covardemente encomenda a criados a morte de Simão. Em suma, nele se concentram toda perversidade, toda a prepotência dos fidalgos. Tal personagem constitui. sem nenhuma duvida, o vilão da historia.

João da Cruz - O pai de Mariana, destaca-se como personagem mais sensato, mais equilibrado, o único personagem que possui traços realistas, de Amor de Perdição. Ferreiro e transformado em assassino numa briga, João da Cruz consegue de Domingos Botelho, pai de Simão, a liberdade. Em nome dessa divida de gratidão, torna-se protetor do herói com palavras sempre oportunas, lúcidas, estratégicas, e com atos corajosos e violentos, quando necessário. A sua linguagem cheia de provérbios e ditados populares, a simplicidade de sua vida, somadas ao amor que dedica á filha, por quem vive, desfazem aos olhos do leitor os crimes que comete e os substituem por uma honradez, uma bondade inata. forte e viril, que nos parecem representativas da visão do autor a respeito das coroadas rurais em Portugal.

Enredo

Na introdução do romance, o narrador-autor reproduz o registro de prisão de Simão Botelho nas cadeias da Relação do Porto e antecipa o degredo do moço, aos 18 anos, em circunstância ligada a uma paixão juvenil, bem como o desenlace trágico da história. Falando diretamente ao leitor, imagina a reação que tal história pode provocar: compaixão, choro, raiva, revolta frente a falsa virtude alegada pelos homens em atos injustos e bárbaros.

Passa então a contar a história da família de Simão Botelho. Principia acompanhando a trajetória de seu pai, Domingos Botelho, que, formado em Direito, inicia sua carreira em Lisboa, onde cai nas graças dos reis. Na Corte, se apaixona por uma dama de D. Maria I, D. Rita Castelo.

Após dez anos de tentativas de aproximação e conquista, casam-se por fim em 1779. Em 1801, estão fixados em Viseu, em companhia de suas três filhas. Seus dois filhos estudam em Coimbra. Manuel, o mais velho, muito reclama de seu irmão Simão, ao que o pai não dá muitos ouvidos. Antes até se orgulha de sua valentia e dos resultados acadêmicos de Simão. Mas quando Simão, em férias em casa, se mete numa briga, em defesa de um criado que fora espancado, seu pai enfurecido o quer ver preso. Sua mãe o ajuda na fuga para Coimbra, onde aconselha que o filho aguarde aplacar a fúria do pai.

Simão, no entanto, mais seguro de si e de sua coragem do que nunca, começa a defender publicamente a Revolução Francesa e, por isso, acaba retido em cárcere acadêmico por seis meses. Perdido o ano escolar, retorna à casa dos seus pais. Domingos Botelho se mantém frio e distante, não dirigindo a palavra ao filho.

Grande e misteriosa transformação vai se operando em Simão, que muda completamente seu comportamento: sai pouco, fica longamente no próprio quarto, mantendo-se pensativo. Tal transformação faz com que, findos cinco meses, o pai consinta que o filho lhe dirija à palavra. Desconhece a esse momento Domingos Botelho a real razão da mudança de seu filho: o rapaz nos seus 17 anos está apaixonado pela filha do vizinho, um inimigo de seu pai. A inimizade tinha se concretizado quando Domingos Botelho dera sentenças contrárias aos interesses de Tadeu de Albuquerque e azedado mais um vez quando Simão machuca empregados de Tadeu em recente briga.

Por três meses, Simão e Teresa encontram-se e falam às escondidas, sem levantar nenhuma suspeita. Sonham casar-se e fazem planos para concretizar seus desejos de vida em comum.

Na véspera do retorno de Simão à Coimbra, os enamorados falam-se pela janela, quando subitamente Teresa é arrancada da frente de Simão. É seu pai, reagindo fortemente ao flagrante. Simão se desespera, tem febre, mas assim mesmo parte para Coimbra, com o plano de retornar secretamente para se comunicar com Teresa. Momentos antes de sair em viagem recebe da mão de uma mendiga um bilhete, em que Teresa lhe revela as ameaças de seu pai de encerrá-la num convento. Pede, no entanto, que Simão siga para Coimbra, garantindo que se manterá em contato.
Rita, a irmã caçula de Simão, e Teresa começam a travar uma amizade secreta, com conversas sussurradas através das janelas. Numa destas conversações são flagradas e Rita, ao ser pressionada pelo pai, conta tudo o que sabe.

Tadeu de Albuquerque percebe também o incidente, mas se mantém tranqüilo. Não que tenha passado a ver com melhores olhos o namoro: tem para consigo mesmo a convicção de que o melhor remédio para curar aquela paixão é o silêncio e a distância. Planeja secretamente casar a filha com um primo, Baltasar Coutinho. Chama logo o rapaz a Viseu, conta seus planos e lhe incentiva a cortejar a filha. Teresa, no entanto, se nega a Baltasar, que insiste em conhecer suas razões: quer ouvir a confissão da prima sobre seu rival. Jura se pôr contra àquela relação, substituindo o tio neste função se necessário.

Tadeu reage fortemente à atitude de sua filha, sentindo-se ofendido no seu direito de pai e decide mandá-la para o convento. Mas nada faz de imediato. Teresa manda semanalmente cartas a Simão, mas lhe esconde as principais ameaças, sobretudo o que escutou de seu primo Baltasar, para evitar um confronto entre os dois. Seu pai, no entanto, trama em segredo sua cerimônia de casamento com Baltasar. Novamente, Teresa se nega. Desta vez, tudo relata a Simão. O rapaz inicialmente tem ímpetos de se vingar, mas, para preservar a possibilidade de felicidade dos dois, acaba por conter-se.

No meio tempo, aluga um cavalo e, quando o arreeiro vem trazer-lhe a montaria, pede-lhe indicação de um refúgio em Viseu. Fica acertada uma hospedagem na casa do primo do arreeiro, o ferrador João da Cruz. O arreeiro encaminha correspondência para Teresa. Ao longe, Simão percebe que na casa de sua amada está acontecendo um festa.

É uma nova investida de Tadeu. Planeja agora propiciar convívio social a Teresa, na esperança que assim ela deixe de teimar em amar o único rapaz que conhece. O primo Baltasar se encontra entre os convidados e observa todos os passos de Teresa. Percebe assim quando Teresa sai da sala e se dirige ao fundo do quintal. A menina volta logo, mas o primo continua a observá-la e, numa segunda escapada, a segue até o jardim. Teresa percebe seu vulto e se assusta, retornado a casa. Ao pai, Teresa alega que está sentindo dores. Mas como o primo Baltasar não é encontrado na sala, Teresa se oferece para ir procurá-lo lá fora. Aproveita a oportunidade para ir ao encontro de Simão que a esperava junto ao muro e dizer que retorne no dia seguinte. Baltasar, ainda escondido, denuncia sua presença a Simão e o ameaça, sem contudo revelar sua identidade.

Trocam os enamorados correspondência. Simão passa o dia na casa do ferrador, que lhe revela se sentir a ele unido por dever de gratidão: o ferrador escapou há três anos da forca por intermédio do pai de Simão. Coincidentemente, há mais tempo ainda, foi empregado de Baltasar Coutinho, que lhe emprestou dinheiro para se estabelecer e, há coisa de poucos meses, lhe chamou pedindo que matasse um homem: o próprio Simão. O ferrador fora na ocasião contar tudo a Domingos Botelho, que, reagindo muito, pôs-lhe a par de toda a situação. O ferrador aconselha-o a tentar resolver a história por alguma outra via, mas Simão insiste em ir ver Teresa à noite. O ferrador então se prepara para acompanhá-lo.

Seguem a Viseu Simão, o ferrador e o arreeiro. Baltasar Coutinho e dois homens estão preparando uma tocaia. Ambos os grupos discutem suas estratégias. Simão mal se avista com Teresa e o clima fica tão tenso e perigoso, que o grupo planeja a retirada. No caminho, encontram mesmo os homens de Baltasar; matam um e ferem o outro. Simão tenta dissuadir João da Cruz a consumar o segundo assassinato, mas o ferreiro não o escuta. Os crimes permanecem um mistério, sem testemunhas e sem ninguém em condições de denunciá-los, já que todos os envolvidos têm sua parcela de culpa e participação.

No embate, Simão fora ferido e passa por temporada de recuperação na casa do ferreiro. É cuidado por Mariana, de quem aos pouco descobre o amor.

Enquanto isso, Teresa é levada provisoriamente ao convento de Viseu, enquanto não se completam os preparativos para sua transferência para o convento de Monchique, no Porto. É introduzida de imediato nas intrigas e vícios das freiras, seus namoros e vida sexual, o consumo de bebida, as disputas pelo poder. Mas ainda assim encontra o favor de uma das freiras, que se compromete a restabelecer sua correspondência com Simão. À noite, quase no escuro, Teresa escreve carta para Simão.

O rapaz, ao receber a carta com notícias do convento, escreve resposta e pede que o ferrador se encarregue de encaminhá-la. O ferrador percebe que o rapaz está quase sem dinheiro e com a filha inventa uma forma de resolver também este problema de Simão: dizem que a mãe lhe enviou dinheiro.

Prepara-se a mudança de Teresa para Monchique e cresce a desesperança dos amantes. Sonham com a fuga. Simão, ao saber que é eminente a ida de Teresa para o Porto, fica transtornado e se prepara para tentar raptá-la. Envia por Mariana uma carta, entregue em mãos a Teresa no convento. Em resposta a Simão, Teresa manda dizer que de nada adiantam os planos de fuga porque uma grande escolta a acompanha na viagem, incluindo o primo Baltasar... Simão se aflige em especial com este detalhe da notícia. Resolve assim mesmo ir ver Teresa à saída do convento e João da Cruz se prontifica a acompanhá-lo, com um grupo, para que possam proceder a um rapto. Simão não aprova o plano, mas mantém em segredo a decisão de ir ver Teresa.

Noite alta, Simão aguarda nas proximidades do convento. Às quatro e meia, começa a movimentação da comitiva, formada por Tadeu de Albuquerque, criados, Baltasar e suas irmãs. Tão logo saem todos, Simão os intercepta. Agredido verbalmente por Baltasar, reage e, quando o rival avança, responde com um tiro de pistola. Neste momento, surge o ferrador que incita Simão fugir. Simão, no entanto, se recusa.

O meirinho-geral, vizinho do convento, chega rapidamente e lhe sugere novamente a fuga, que novamente é recusada.

O crime rapidamente chega ao conhecimento da família Botelho. As irmãs choram, a mãe espera que o pai interceda favoravelmente ao filho, mas Domingos Botelho é duro: espera que a lei se cumpra com rigor. A situação de Simão é péssima: confessa tudo, sem nem alegar legítima defesa. O pai se nega inclusive a lhe financiar o conforto e as primeiras necessidades na cadeia e decide mudar com a família de Viseu, para que ninguém se sinta coagido a facilitar a situação de Simão.

Já na cadeia, Simão recebe almoço mandado por sua mãe e acompanhado de uma carta. Pelos dizeres da mãe, acaba por concluir que a ajuda que recebera anteriormente não viera dela e passa a recusar qualquer auxílio materno. Em seguida, recebe cuidados de Mariana, que providencia mobília para a cela e o alimenta durante o período de espera do julgamento. Simão é condenado à forca. Mariana, tão logo sai a sentença, sofre de um ataque de loucura.

Amigos, conhecidos, familiares e sobretudo sua mãe, Rita, pressionam seu pai a interceder em seu favor, mas Domingos Botelho, residindo afastado da família, resiste a fazê-lo. Até que um tio o põe contra a parede. Domingos Botelho age, movido também pelo prazer em se mostrar mais influente que Tadeu de Albuquerque. Consegue assim a comutação da pena do filho para um degredo de dez anos na Índia.

Enquanto isso, Teresa se encontra no convento de Monchique, no Porto. Acompanhada de uma criada, Constança, e bem tratada pela sua tia, prelada do convento. Consegue brecha para mandar carta a Simão, onde manifesta que também se sente à espera da morte. Cai doente e só apresenta alguma melhora ao receber notícia de que Simão será transferido para o Porto. Temendo estarem os dois enamorados na mesma cidade, Tadeu planeja mudar Teresa novamente para Viseu. A tia prelada, usando para tanto das normas do convento, o impede de levar a filha.

Na cadeia da relação no Porto, Simão recebe a visita de João da Cruz, que vem acompanhado da filha, já recuperada. Mariana quer novamente servir a Simão. Também restabelece-se a possibilidade de correspondência com Teresa.

João da Cruz retorna a Viseu, deixando Mariana com Simão. Pouco depois é morto em vingança de um antigo crime. Mariana então retorna a Viseu e vende tudo o que seu pai lhe deixou, com a intenção de estar livre para acompanhar Simão no seu degredo.

Uma última decisão judicial ainda permitiria que Simão cumprisse sua pena na prisão de Vila Real, mas este se recusa a aceitar tal mudança. Prefere a liberdade de poder ver o céu e sentir o vento em país estrangeiro do se manter em uma cela. Teresa ainda tenta mudar-lhe a decisão, mas não consegue. Passam-se ainda alguns meses até que em 17 de março de 1807 Simão da Botelho embarca para a Índia. Mariana, sem maiores dificuldades, consegue um lugar à bordo.

Simultaneamente, no convento, Teresa relê uma a uma as cartas de Simão, as enlaça e entrega para Constança com o pedido de que sejam entregues a Simão. Às nove da manhã sobe para o mirante, de onde é possível assistir à partida dos navios. Simão pede a Mariana que lhe mostre o convento e vê Teresa acenando. Lá mesmo no mirante, Teresa morre. O capitão do navio conta a Simão detalhes da morte de Teresa e promete a esse que, caso algo lhe aconteça, reconduzira Mariana a Portugal.

Nesta noite, Simão lê a derradeira carta de Teresa, que lhe chegou junto ao maço de correspondência. Na manhã de 28 de março, morre em alto-mar Simão Botelho, depois de sofrer durante nove dias febres e delírio. No mesmo instante que os marujos arremessam o corpo de Simão ao mar, Mariana se atira.

Fonte: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/a/amor_de_perdicao

Amor de Perdição - Resumo do Livro

Amor de Perdição
Resumo do Livro por: JulieM
Autor: Camilo Castelo Branco

Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, membros de família rivais da cidade de Viseu,em Portugal.apaixona-se "perdidamente ", no entanto, logo percebem à impossibilidade da realização desse amor por meio do casamento, pois suas famílias eram declaradamente inimigas. Não tarda muito para os jovens amantes sentirem todo o ódio de seus pais.

Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, ao descobrir o romance, trata de prometer a mão de sua filha a seu sobrinho Baltasar Coutinho. No entanto, a moça rejeita o pretendente fato que irrita profundamente o pai.Surge, nesse momento, o segundo grande elemento complicador.

Desprezado e ofendido em seus brios Baltasar alia-se ao tio e juntos tramam o destino da pobre Teresa. Decididos, procuram persuadi-la a esquecer Simão, sob pena de a encerrarem em um convento. Teresa, temendo a ira de seu pai diante do rompimento causado por sua desobediência, aceita passivamente seu destino, prometendo afastar-se de Simão. No entanto, da repulsa ao casamento imposto por seu pai, ela continua irredutível.

A moça não aceitava um casamento contrário às regras de seu coração. Na casa dos Botelhos, concomitantemente a esse fato, o pai de Simão, muito irritado com aquela desdita paixão resolve por fim ao romance entre seu filho e Teresa, enviando o jovem Simão a Coimbra para concluir seus estudos, almejava com isso sufocar o amor dos jovens pela distância.

Porém, nem mesmo esse empecilho foi capaz de destruir esse infortúnio sentimento. Teresa mesmo confinada em sua casa escrevia a Simão, contando os dissabores por que passava e haveria de passar, sob as pressões de seu primo e de seu pai. Contudo, mesmo diante dessas adversidades, os amantes clandestinamente se comunicavam por cartas com certa freqüência.

Comunicação essa, que mais o amor dos dois. Simão, enlouquecido pela saudade de sua amada, decide ir a Viseu encontrar-se com Teresa. Furtivamente, é hospedado pelo ferreiro João da Cruz, homem destemido, forte e fiel. Sob proteção de João, Simão tenta chegar à casa de Teresa, mas lá estava Baltasar comemorando o aniversário da prima. O astuto Baltasar consegue perceber a ansiedade de Teresa e deduz o que estava para acontecer.

No meio da festa a jovem tenta falar com Simão no jardim, contudo o casal é surpreendido, arma-se uma confusão que culmina com as mortes de dois criados de Baltasar.Desse entrevero Simão sai ferido.O rapaz busca refúgio na casa de João da Cruz para recuperar-se dos ferimentos.Entretanto, ainda não estava determinado o fim desse romance.

Os amantes ainda mantinham comunicação por meio de uma velha mendiga que passava com freqüência sob a janela do quarto de Teresa. Para punir a rebeldia da filha, Tadeu de Albuquerque decide mandá-la a um convento do porto -chamado Monchique - cuja prioresa era patente de Teresa. Antes, porém, a jovem é recolhida em um convento na própria cidade de Viseu, enquanto Tadeu aguardava a resposta do Porto.

Em Viseu, na casa do ferreiro, Mariana, filha de João da Cruz, torna-se a enfermeira de Simão, tratando-o com muito cuidado. Nasce nela um profundo amor pelo enfermo. Amor esse não revelado pela moça.

Mariana, sabedora que Simão e Teresa não estavam conseguindo manter a comunicação, visto que Teresa estava sob rigorosa vigilância, resolve ajudar os amantes.

Mariana vai até o convento com a desculpa de visitar uma amiga. Sua ação é bem sucedida, a filha de João da Cruz consegue falar com Teresa e essa manda um recado a Simão. Nele a jovem fala de sua impossibilidade de escrever a Simão e que ela iria para um convento na cidade do Porto.

Simão ao tomar conhecimento dos fatos, fica furioso e, em um acesso incontido de raiva, decide tentar raptar Teresa de seu fatídico fim no convento.
O jovem defronta-se com Baltasar, na tentativa de resgatar a amada. Mesmo diante de várias testemunhas o jovem Simão atinge Baltasar com um tiro mortal.

Em meio à confusão surge João da Cruz que procura dar cobertura a fuga de Simão, contudo esse recusa-se a fugir entregando-se a prisão.
Simão é preso e condenado a morte. Porém, devido à interferência do corregedor Domingos Botelho, pai de Simão, a pena é convertida ao degredo nas Índias.

Em meio a tanta tragédia, Simão ainda preso no Porto, toma conhecimento que seu fiel amigo João da Cruz havia sido assassinado. Mariana, sem ter mais ninguém, resolve acompanhar Simão ao desterro. Essa situação aflora, no coração da jovem Mariana, a esperança de concretizar o seu amor por Simão.

A sentença do desterro sai, Simão é condenado a ficar dez anos na Índia.
Enquanto para Mariana o degredo é sinônimo de esperança, para Simão, a Índia é sinônimo de humilhação e miséria.

Teresa começa a ter sua saúde abalada. Definha, cada vez mais triste e muito magoada, a linda fidalga parece ter perdido a vontade de viver. Seu fim aproxima-se, recusa-se a evitá-lo.

Ao em arcar rumo à Índia, Simão contempla Monchique e vê, pela última vez no mirante do convento, a mulher que fora responsável por tudo aquilo.
Também Teresa contempla o navio que levava seu amado. Logo após, Teresa morre. Simão, antes de seguir seu destino, toma conhecimento da morte de Teresa e, profundamente consternado e deprimido, segue rumo ao degredo.
Ainda, muito consternado ele guarda algumas cartas de Teresa, seu corpo vai sendo consumido pela morte.

Alguns dias após a viagem, Simão morre vitimado pela febre. Mariana não resistindo à perda do amado, rompe o silêncio com gritos que saem do mais fundo do seu coração. Quando percebe que seria impossível viver sem a presença de Simão, a filha do ferreiro entrega-se às revoltas águas do mar, as quais já haviam recebido o corpo de Simão.O suicídio de Mariana marca o fim da trágica história dos Botelhos e Albuquerque.
Publicado em: 08 abril, 2007


Fonte: http://pt.shvoong.com/books/502029-amor-perdição/

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